Friday, June 16, 2006

Capítulo 1 (Parte 5)

Céus!

Que horror!

Oh meu Deus o que é isto!?

Onde estou???

Enquanto estes pensamentos se atropelavam na minha cabeça, entrei novamente no quarto, incrédula, agoniada, sem fala.

A rapariga voltou para trás comigo, falava, falava, tocava-me no braço ... as que estavam dentro do quarto olhavam-me como se eu fosse uma ave rara.

Por fim comentei - eu nunca vi uma coisa assim ... tantas mulheres, crianças ... - responderam - já te explicamos, agora anda e despacha-te, senão não telefonas mesmo.

E lá fui eu, encolhida atrás delas e enquanto andava via as mulheres todas desalinhadas, ponta a cima ponta abaixo, fumo no ar, muito fumo, um barulho ensurdecedor, as crianças no piso de baixo com pedaços de pão na mão e tapetes a serem sacudidos do piso de cima, lixo no chão ... conforme eu ia passando ia ouvindo pedaços de conversas em linguagem vernácula e alguns comentários, - olha a jornalista que entrou ontem ..., mais à frente, - ... é a jornalista sim senhor, a guarda disse-me que era ela....

Chegámos a um hall, pelo qual tinha passado na madrugada anterior, apinhado de mulheres, a fumar, a beber café, a maioria de pijama vestido com uma bata por cima, a falarem aos gritos para se fazerem ouvir no meio da gritaria geral, no meio da histeria das guardas a fazerem chamadas ao microfone, rádios a tocar estridentemente ...

Enfim, ninguém se entendia, pensava eu, mas no fundo todas se entendem no meio desta engrenagem que começa a fazer parte do dia a dia de cada pessoa que ali vive, vegeta, sobrevive ou morre! (Gaby, companheira, onde estiveres sabes que estás sempre no meu coração)

A minha “colega” perguntou, aos gritos, - Quem é a última para o telefone ? És tu? E quem vai agora? És tu? - e dirigindo-se a esta última disse - ó colega, deixa esta rapariga telefonar num instante ... entrou esta noite e ainda não falou com a família!

Isto foi dito mais num tom de ordem que de pedido e talvez por tal foi concedido. Cheguei-me com a minha “colega” ao telefone, ela enfiou o cartão da PT, liguei o número do meu pai e as lágrimas caíam.

Só pensava - tenho que me controlar, tenho que dominar as emoções pois não as posso transmitir à minha família - .

O meu pai atendeu, com uma voz triste e cansada - Estou, sim ? – e eu disse – Papá, sou eu. Estou na prisão de Tires. - perguntou-me - Em Tires !!!??? Como foi isso? – respondi – não sei bem ainda.... pai, desculpa mas não sei. O meu filho?Onde está o meu filho?, - respondeu, - Não te preocupes está aqui. Disse eu - Pai, leva-o à escola pois o meu filho nunca andou de autocarro ... cuida dele e da mamã -.

A minha mãe entretanto veio ao telefone, a chorar – eu também com as lágrimas a cair mas tinha que me controlar, - Oh ... filha que desgraça .. mas o que aconteceu ?

Eu já não tinha mais tempo para estar ao telefone. Algumas mulheres já estavam exaltadas a falar alto. - Ó colega, vê lá se te despachas ... também quero telefonar. Respondia a outra, - tás a falar p’ra quê, ó chavala, nem sequer é a tua vez agora! Com este início de discussão, entre elas, esqueceram-se de mim por um pouco e eu consegui falar com a minha mãe, dei-lhe o horário das visitas (estava afixado junto ao telefone) e falei com o meu filho, - Filho, a mãe ama-te muito... não te preocupes meu anjo... há aqui um engano e tudo se vai esclarecer rapidamente, está bem? Amo-te – e ele, coitadinho só me dizia, - Sim mamã, eu também te adoro.

E tive que desligar pois não aguentava mais a pressão, a cabeça a latejar, as lágrimas e a gritaria das mulheres já não me deixavam pensar, falar, nem ouvir mais nada.

(continua ...)

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